domingo, 13 de dezembro de 2009

Feliz Natal (Letra de Albercyr Camargo / Música de Araguari - 1952)




















Bom Natal, feliz Natal
São votos cheios de fé
nesta data universal
de Jesus de Nazaré
Salve o dia abençoado
em que nasceu o Senhor
Natal, Natal consagrado,
dia de paz e de amor
Há em toda a Natureza
um sentimento profundo
Com emoção e singeleza
sobem as preces do mundo
A tocar nas igrejinhas
sinos chamam a rezar
Vão dormir as criancinhas
com brinquedos a sonhar
Os presépios são tão lindos
presépios cheios de luz
porque todos são bem-vindos
junto ao berço de Jesus

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Menos é mais (sobre um texto de José Saramago)

Ter mais bens materiais
não é meta a pretender;
o menos pode ser mais
até num simples prazer.

A PAZ

Depois de um sábado de muita chuva , o domingo na Barra da Tijuca amanheceu ensolarado, prenunciando um belo dia de praia. Da varanda do apartamento eu estava olhando o mar , as ondas espumantes beijando a areia onde muitas pessoas já começavam a armar barracas coloridas. Na avenida o movimento de veículos era incessante. No céu algumas nuvens esbranquiçadas tomavam as mais variadas formas que logo se modificavam ao sabor dos ventos. O dia estava sereno e a beleza da paisagem me transmitia uma agradável sensação de Paz. Por um momento eu tinha esquecido que durante a semana os jornais, as emissoras de rádio e os canais de televisão tinham dado destaque às notícias sobre a violência e insegurança que estão afetando as pessoas nas grandes cidades. Estão se tornando comuns os movimentos e passeatas em defesa da Paz. Na verdade, a Paz representa o maior bem que a humanidade pode desejar. A Paz significa a ausência de lutas, conflitos e pertubações sociais. Em todos os momentos de nossas vidas a Paz precisa estar presente. Seja no relacionamento familiar, no relacionamento com outras pessoas conhecidas ou não, no dia-a-dia do convívio com os vizinhos, com todas as pessoas que participam de nossos atos. No mundo, os conflitos entre nações causam grandes sofrimentos. Os intervalos de Paz são, de fato, uma dádiva dos Céus. Em todos os tempos o tema da Paz inspirou artistas, poetas e filósofos na produção de suas obras. Grandes líderes da humanidade lutaram pelos seus ideais usando como instrumentos de suas ações o sentimento da Paz. Martin Luther King nos E.U.A. para extinguir a discriminação racial, Mahatma Gandhi em favor da independência da India, no Brasil o General Cândido Rondon em sua grande obra civilizadora entre os índios. São nomes que jamais serão esquecidos. Os antigos romanos incluiam desejos de Paz nas saudações , até mesmo em cumprimentos cotidianos. Na liturgia católica da missa um dos cânticos diz ¨glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade¨. A Paz que todos desejam começa no interior de nossos corações. Só o sentimento coletivo pode fazer cristalizar esse grande anseio capaz de dignificar a nossa condição de seres humanos.

Albercyr Camargo

sábado, 3 de outubro de 2009

Desengano

Tu recusaste o meu amor, com fria
Indiferença e um riso de desdém...
E eu, que perdidamente te queria,
desejei não amar a mais ninguém.

O mundo que criei na fantasia
Girava em teu redor. Eras o alguém,
Esse alguém que sonhei amar um dia
E ouvir dizer que amava a mim também.

Mas afinal o tempo foi passando,
E hoje, que te conheço melhor, vejo
Que não és quem andei imaginando.

Bendigo o teu orgulho soberano:
Se tivesse cedido ao meu desejo
Talvez fosse maior o desengano

Albercyr Camargo
Revista Vida Doméstica - 1952

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Mulher na Janela

Em Copacabana,
numa movimentada avenida,
uma mulher espia
na janela de um apartamento
de andar baixo.
Ela pensa ? Em que pensa ?

Na janela de outro apartamento
no lado oposto da avenida, 
um cão mostra o focinho
e acompanha o movimento.
O cão também pensa ?

A mulher na janela espia...
Milhares de veículos
trafegam o tempo todo.
Os ônibus, dinossauros urbanos,
trepidam nos ressaltos do asfalto.
Motoristas impacientes buzinam à toa...

Um maestro furioso e descabelado,
Que ninguém consegue ver,
rege a orquestra caótica do trânsito,
produzindo insuportáveis decibéis...

A mulher na janela espia...
O tempo parou.. O dilúvio aconteceu ?
Em que pensa a mulher na janela ?
Quem sabe, fluindo na memória
lúbricos desejos numa contingência
de asas e obstinação ?

Albercyr Camargo

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Folha

Arrancada do teu galho,
Pobre folha sem orvalho,
Aonde é que vais? – Eu não sei.
O raio fendeu o tronco
Sob o qual eu me abriguei,
Ao sopro da brisa, ao ronco
Soturno da ventania, 
Lá da floresta à campina,
Lá da montanha à colina
Eu erro desde esse dia.
Traça o vento a minha sina,
Eu vou sem pranto e sem susto
Aonde vai tudo na vida,
Da rosa a folha caída
E a folha do louro augusto.

Albercyr Camargo
Tradução do francês Antoine Vincent Arnault (1766-1834)

sábado, 1 de agosto de 2009

Heróis

Sessão de cinema.
O filme de ação faz convergir para a tela
O olho hipnotizado da platéia.
Façanhas incríveis são praticadas
Pelo personagem principal.
É ele um herói de revistinhas
de histórias em quadrinhos,
Um super-homem de músculos de aço,
Criado pelo talento de um artista
de prodigiosa imaginação.
O público no cinema vibra, aplaude
e se entusiasma vendo as cenas
arrojadas, espetaculares.

Na vida real também existem heróis !
Esses homens que exercem trabalhos
Pesados e estafantes nas cidades,
nos campos, nas minas, esses homens
que nos cais carregam peso,
flexionando o dorso, esses homens que
enrijam os músculos no uso
de máquinas trepidantes, esses homens
que ajudam a construir edifícios
e que nas grandes obras de engenharia
arriscam a vida, muitas vezes fazendo
prodígios de equilíbrio, esses homens,
mesmo sem se darem conta,
são de fato verdadeiros heróis !

Na vida real também existem heróis !
Quantas pessoas dedicam suas vidas,
sem medir sacrifícios, para levar amparo
a desprotegidos, nos mais remotos lugares,
privando-se do lazer e do conforto,
fazendo o bem sem esperar recompensa.
são médicos, são cientistas, são professores,
são religiosos, são assistentes sociais,
são voluntários, são pessoas que trabalham
distribuindo as graças da fraternidade.
Essas pessoas são de fato verdadeiros heróis !

Ah, e os heróis da pátria !
Os que tombam nos campos de batalha,
Vítimas da insânia das guerras,
esses são heróis e mártires !

Há no mundo tantas pessoas anônimas
dando exemplo de amor ao próximo,
que, mesmo sem se darem conta,
são heróis, são heróis !

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quem sou

Albercyr Camargo, nome literário de Albercyr Valpassos Camargo, é natural da cidade do Rio de Janeiro, tendo nascido em 1928. Estudou no Colégio Pedro  Segundo (1943-50). Publicou em 1952 o livro "Meu coração trovador" e em 1964, em parceria com Walter Gomes da Silva,  Antonio Carlos Piragibe, Delmar Barrão e Hélio C. Teixeira, o livro de trovas  intitulado "Cinco Itinerários". Tem participação nas seguintes obras: Antologia de Poetas da Nova Geração (organizada por Alcides Pinto, Raimundo Araujo e Ciro Colares) em 1950, Meus Irmãos, os Trovadores (organizada po Luiz Otávio, em 1956), Tesouro das mil melhores quadrinhas brasileiras de amor e saudade (seleção de Pandiá Pandu, em 1963), A Sombra do Arco-iris (Malba Tahan, em 1963), Poetas Cariocas em quatrocentos anos (Frederico Trotta, em 1966), Trovadores do Brasil (coletânea organizada por Aparício Fernandes, em 1966), A trova no Brasil (história e antologia), organização e apresentação de Aparício Fernandes, em 1972), Belezas e maravilhas do céu (Malba Tahan, em 1974), Mil trovas de amor e saudade (pesquisa e seleção pelos trovadores P. de Petrus e Noel Bergamini, em 1984), Brasil trovador-87 (organização de Lais Costa Velho, em 1987). Nas décadas de 1950 e 1960 teve colaboração esparsa em jornais e revistas do Brasil. Revistas A Careta, Vida Doméstica, Fon-Fon (todas do RJ), Alterosa (MG), Vida  Capixaba ES), Palmeiras  (Campinas-SP). É verbete na ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, organizada por Afranio Coutinho e J. Galante de Souza, edição atualizada em 2001 pelas escritoras Graça Coutinho, filha do professor  Afrânio, e Rita Moutinho. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, mora no Rio de Janeiro.

domingo, 28 de junho de 2009

Rima (Bécquer, poeta espanhol, 1836-70)

Que é poesia ? dizes tu, cravando
tua pupila azul no meu olhar - 
Que é poesia ? Ainda perguntas ?
Não vês? Poesia... és tu.

Albercyr Camargo (tradução)

Depois da chuva

Depois de chuva tamanha,
o alto pico da montanha
nuvem branca circulou...
Parecia uma velhinha,
tendo a cabeça branquinha
que a mão do tempo marcou...

Albercyr Camargo

O Sorriso da Mona Lisa

Quando a Gioconda foi pintada, o artista
certo deixou o quadro numa sala
(eu sei que a história disso não nos fala,
nem foi narrado por nenhum cronista).

A Lua, que no céu vinha a passar, 
radiosamente entrou pela janela,
deixando impressas no sorriso dela
a morna luz, a placidez do luar.

Albercyr Camargo

Lira Imortal! A Lira de Castro Alves

O vôo do condor - na imensidade,
estrelas - num dilúvio esplendoroso,
santelmo - no fragor da tempestade,
lavas - vertidas em vulcão iroso,

hino - entoado em louvor da liberdade,
promessa - de venturas e de gozo,
crisol - para alcançar a divindade,
música - em turbilhão maravilhoso,

fogo santo - de férvida paixão,
fanal bendito - lume da razão,
ressonâncias - de loas e de salves,

pérola rara - em pélago medonho,
inspiração - no vislumbrar de um sonho ...
Lira Imortal! A Lira de Castro Alves!

Albercyr Camargo
(do livro a ser publicado em 2009 - Trovas, Sonetos, Poemas e Traduções)

domingo, 21 de junho de 2009

Trovas

Guardei o teu retratinho
e não te esqueço, de fato,
Mas antes ter-te comigo
e me lembrar do retrato...



Já repararam que o rio,
quando vai caminhar,
é nas pedras do caminho
que mais parece cantar ?



Querer tudo... Insensatez
que a muita gente domina:
- Nem o Sol, de uma só vez,
a Terra toda ilumina.



Triste sina dos mortais
é ver, assim malfadadas,
lado a lado - almas rivais,
almas gêmeas - separadas...



Meu amor é tão profundo,
de tal maneira se empenha,
que não encontra no mundo
um coração que o contenha.



Quanta virtude e beleza
nesta profunda lição:
o rio lavando as pedras
que tentam detê-lo em vão.



Tu não vês o prejuízo
dos teus caprichos sutis ?
Prazer de não ter juízo
faz muita gente infeliz.



Eu te prometo uma estrela,
tu me prometes amor.
- São promessas impossíveis,
são promessas sem valor.



O vento nos teus cabelos
esta imagem me provoca:
És uma estátua divina
que o artista vento retoca...



Tendo o mistério divino
de uma noite constelada,
teus olhos mostram a estrada
do meu trilhar peregrino.

Albercyr Camargo