quinta-feira, 1 de julho de 2010

ENTREVISTA


O jornal GAZETA DE TERESÓPOLIS, em 22-07-1983, publicou entrevista concedida por Albercyr Camargo à Marisol, trovadora responsável pela seção TROVA/TROVADORES, abaixo reproduzida:

MARISOL: Como se fez trovador?
AC: Foi sob a influência da leitura de livros de Adelmar Tavares que compuz as primeiras trovas. Foi importante também meu conhecimento pessoal com Luiz Otávio, de quem recebi grande incentivo.

MARISOL: Qual o trovador de sua preferência?
AC: Eu gostaria de citar muitos trovadores que admiro. No entanto, rendo minha homenagem a Adelmar Tavares.

MARISOL: O que é o amor?
AC: É o sentimento que torna as criaturas dignas de suas existências.

MARISOL: E a vida o que é?
AC: É a forma de participação no supremo milagre do Universo.

MARISOL: Qual a trova que você gostaria de assinar ?
AC: São muitas. Por exemplo: Amigos são todos eles/como aves de arribação:/ - Se faz bom tempo, eles vêm... / - Se faz mau tempo, eles vão... (Soares da Cunha)

MARISOL: Qual a sua melhor trova?
AC: Querer tudo... Insensatez/ que a muita gente domina;/ - Nem o sol, de uma só vez,/ a Terra toda ilumina.

MARISOL: Você acha que a trova é subliteratura?
AC: A trova é uma forma de poesia de agrado popular o que leva alguns críticos pretensiosos a rejeitá-la.A maior prova do valor literário da trova está na obra de Adelmar Tavares, "Rei dos Trovadores" e que foi membro da Academia Brasileira de Letras.

MARISOL: Qual o poeta da sua preferência?
AC: Castro Alves, o maior poeta do Brasil e das Américas.

MARISOL: Que conselhos daria a um principiante na trova?
AC: Ler e estudar seus autores prediletos. Ter como objetivo a qualidade de seus trabalhos e jamais a quantidade.


obs.: leia aqui o soneto LIRA IMORTAL! A LIRA DE CASTRO ALVES!

terça-feira, 1 de junho de 2010

VERSOS ALEXANDRINOS

É comum chamar-se alexandrinos todos os versos de 12 sílabas. Todavia, há um lapso nesse entendimento. Os verdadeiros alexandrinos se compõem de dois versos de seis sílabas em um só, sendo indispensável que o primeiro termine por uma palavra aguda (oxítona) ou, no caso de ser palavra grave (paroxítona), que o vocábulo seguinte comece por vogal ou H mudo, assim possibilitando a elisão, como se vê nestes exemplos:
1º- Aos meus olhos mortais/ surgiste-me, Corina...
2º- Depois, depois vestin/do a forma peregrina...

Os seguintes versos de Guerra Junqueiro e de Machado de Assis, respectivamente, com pausas nas 4ª, 8ª e 12ª, são de 12 sílabas, mas não são alexandrinos.
Quem me defende? a minha corte? a minha guarda? ...
Olhar de vida, olhar de graça, olhar de amor.

Nota: As duas partes do alexandrino que se unem no meio dos versos formam o que se denomina hemistíquios, e o ponto em que se processa a fusão denomina-se cesura. (Extraido do livro DICIONÁRIO DE RIMAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, de autoria de JOSÉ AUGUSTO FERNANDES)

OS TEUS OLHOS AZUIS (Albercyr Camargo)
Há olhos cor do mar, olhos de verdes tons,
há castanhos também, negros, de outras nuanças...
Há olhos divinais, ardentes como os sons.
distraídos alguns ou cheios de esperanças.
Há os olhos fatais, há olhos puros, bons,
olhos cuja expressão lembra os rítmos das danças...
Olhos que dizem tudo e revelam os dons
d´alma naquele modo ingênuo das crianças.
Há olhos sensuais, há olhos sonhadores,
há olhos quentes, febrís, num rosto de mulher.
Muitos cheios de vida, outros cheios de luz...
Há nos olhos mistério e beleza nas cores...
Todos têm afinal uma atração qualquer...
Mas nenhum se compara aos teus olhos azuis!

domingo, 2 de maio de 2010

DESESPERO, UMA GATA E A JARRA

Cheguei cansado e me atirei a esmo
numa poltrona. Farto, aborrecido,
revoltado, com raiva de mim mesmo.
E assim o dia inteiro tinha sido...

Era bem tarde... As sombras na saleta
enchiam mais meu coração de fel,
enquanto Puma, a velha gata preta,
brincava desmanchando um carretel.

Alheada ... Nem mesmo deu por mim.
Depois, num salto cheio de indolência,
deitou-se na almofada de cetim.
E eu (contraste!) morrendo de impaciência...

Olhou-me assim, então, lambendo a pata,
tão serena que eu tive raiva dela.
Essa gata, essa gata, GATA, GATA!!!
...
Que pena!... A jarra que quebrei... Tão bela!...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

VENUS PUDICAS (II)

Ramon Mayorga Rivas
(do livro Parnaso Nicaraguense)

En lindo camarín color de rosa,
que ornan Cupidos y querubes, ella
como Venus Desnuda, pura y bella,
sobre un diván espléndido reposa.
Dormida, su alma vuela presurosa
hacia un ideal lejano que destella
una amorosa luz como de estrella...
mas de pronto despierta temblorosa:
y enfrente ve en un lienzo retratado
á un joven dios, risueño, que la mira
y que parece hablarle enamorado...
Ella da un grito, mas después suspira,
y de su desnudez el gran tesoro
cubre veloz con sus cabellos de oro!.



VENUS PUDICAS (II)
Tradução de Albercyr Camargo

Num lindo camarim em tom de rosa,
que anjos e Cupidos ornam, ela
como Venus Desnuda, pura e bela,
sobre um divã de luxo o sono goza..

Sua alma, em sonho, busca pressurosa
um ideal distante que revela
uma amorosa luz como de estrela...
Mas de repente acorda temerosa,

e vê em frente um quadro onde pintado
um deus jovem, risonho, a tem na mira
parecendo falar-lhe enamorado...

De espanto grita, mas depois suspira,
e da nudez esplêndida o tesouro
cobre veloz com seus cabelos d'ouro!

domingo, 7 de março de 2010

VENUS PUDICAS (I)

Ramon Mayorga Rivas

El agua en el estanque está dormida
y la coronam pétalos de rosa,
á la indecisa claridad hermosa
de una aurora triunfal que vierte vida.

Se dejó para el baño prevenida,
límpida, y enflorada y olorosa,
y ya llega la niña pudorosa
al borde del estanque desvestida,

Toca la linfa con el pie, y al frio
beso que siente, á echarse no se atreve;
mas al mirar en el boscaje umbrio

que la contempla un cazador aleve,
de pronto entrega al estancado rio
su cuerpo virginal de rosa y nieve ...

(do livro Parnaso Nicaraguense)


VENUS PUDICAS - Tradução de Albercyr Camargo

No lago está a água adormecida,
boiando nela pétalas de rosa,
à claridade vaga, radiosa,
de aurora triunfal que jorra vida.

Deixou-se para o banho prevenida,
bem límpida, com flores, perfumosa.
Não tarda muito e chega pressurosa,
junto do lago a venus já despida.

Põe n'água o pé; sentindo o beijo frio,
a jogar-se não ousa, nem de leve,
mas vendo que do matagal sombrio

a contemplá-la um caçador se atreve,
de pronto entrega ao estancado rio
seu corpo virginal de rosa e neve.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

FRASES FAMOSAS. AUTORES ?

Relendo meus recortes de jornais, guardados há muitos anos, achei interessante fazer alguns destaques. Escolhi o tema “Frases famosas. Autores ?”. Começo pela frase atribuída por muitos ao poeta português Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. O Historiador José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras, esclarece num dos recortes guardados, que a frase foi dita pelo romano Pompeu, general e estadista (106-48 a.C.) quando no mar Mediterrâneo, sob ameaça de tempestade, zarpou com mantimentos para uma Roma em crise de abastecimento. A fonte dessa informação aponta para Plutarco, escritor grego (40-120 a.C.). O verso “O infinito enquanto dure”, que fecha o “Soneto da fidelidade” de Vinicius de Moraes, é de autoria de Henri Joseph de Régnier, romancista e poeta simbolista e parnasiano francês (1864-1936). Fonte: “Os que criam e os que copiam”, artigo de Jaime Barbosa (Jornal do Brasil, 25 de fevereiro de 2000). No mesmo artigo, Jaime Barbosa compara o belo soneto de Camões (1524-80) “Alma minha gentil que te partiste/Tão cedo desta vida descontente/Repousa lá no céu eternamente/E viva eu cá na terra sempre triste” com os versos do poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374) “Alma minha gentil que agora parte/Tão cedo deste mundo a outra vida/Terá certo no céu grata acolhida/Indo habitar sua mais beata parte”. Encontrei mais exemplos, mas é difícil dizer quando é plágio ou quando a memória leva alguém a repetir aquilo que foi lido ou ouvido. O músico e compositor Erich Araguari me disse certa vez que evitava tomar conhecimento de trabalhos alheios com receio de ser traído pela memória em suas composições.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Felicidade

O ideal na vida seria, portanto, não desejar coisa alguma;
aquele que não deseja não sofre! (Malba Tahan)

Em não desejar mais do que alcançamos,
Eis o pouco afinal em que consiste
Essa felicidade que buscamos...
Mas é tão raro aquele que a conquiste!

Somos felizes quando caminhamos
Sem trazer n'alma o pesadelo triste
Da incerteza de um sonho que sonhamos
Que à realidade às vezes não resiste!

Sempre que busco a tão sonhada palma,
cada ilusão acesa dentro d'alma
faz crescer a ansiedade em que me ponho...

E eu não serei feliz completamente
Enquanto revolver-me internamente
O espasmo, a febre utópica do sonho!


Albercyr Camargo